Avenida Paulista – SP – 20/06/13
Você, que diz “bandido bom bandido morto” (frase inspirada em justificativa americana pra fazer genocídio de indígenas), é cúmplice desse comportamento da polícia.
É assim que se aplaude o autoritarismo, que quer ser aplaudido e quer ver apoio. Não é à toa que a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo foi pega ano passado exaltando a ditadura em seu site. Propaganda é a alma do negócio. Estou há anos acompanhando como a Polícia Militar do estado de São Paulo gosta de show: cavalaria, tropa de choque, helicóptero, principalmente contra estudantes e pessoas de baixa renda. Quando a PM chega é sempre um espetáculo espalhafatoso.
Quem pede por “bandido morto” está dizendo outra coisa: por favor violem a lei, abusem de poder, se sintam a encarnação da justiça, capazes de julgar e condenar à morte qualquer suspeito. É característico de todos os autoritários o sentimento de que estão agindo por justiça, pelo que é certo, em benefício do “cidadão de bem”. Ignorar que pena de morte é ilegal e que todos têm direito à defesa, e com o apoio de parte da população que quer ver o sangue dos criminosos, é justamente o que uma instituição autoritária quer para se legitimar.
O que a classe média paulistana viu contra parte de seus filhos na Paulista é apenas uma pequena amostra de coisa muito pior que acontece contra as outras classes – eu diria até contra outras raças, especialmente nas periferias.
Belo Horizonte, junho de 2013.
A desculpa de que vão tirar nossas liberdades para nos proteger (do bicho papão comunista, do terrorismo, da baderna, do vandalismo) é indefensável. “Aqueles que renunciam à liberdade essencial para obter um pouco de segurança momentânea não merecem nem liberdade nem segurança”, disse Benjamin Franklin.
Peguem os exemplos dos lugares mais seguros do mundo: a segurança tem muito mais a ver com justiça social do que com Estado policial. A propósito, militares existem para prevenir um país contra a ação de inimigos. Toda a racionália militar está fundada na ideia de que outros povos podem nos atacar. A existência de uma polícia militar já perde totalmente o sentido nisso, pois a última vez que o Estado considerou oficialmente parte da população como inimiga foi no período da Ditadura Militar, por isso mesmo a SSP precisa exaltar esse período: a existência da PM é resquício dele, e depende dessa mentalidade para se justificar.
A geração que está se formando politicamente levando porrada da PM e se defendendo com vinagre de suas armas químicas não pode descansar até que todos vejam que a PM não tem mais razão de ser. Polícia civil para um regime civil. Polícia militar para o baú da história, junto com o regime militar.
Por Eli Vieira.
Retirado de: https://www.facebook.com/elivieira?fref=ts